O avanço na vacinação e a redução dos protocolos de distanciamento social já registram resultados positivos no setor hoteleiro. A expectativa é de que, em 2022, o segmento do turismo recupere pelo menos 30% do faturamento médio.
O dado, divulgado pela BRAZTOA (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) corrobora com a expectativa do mercado. Durante o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, ocorrido em junho deste ano, foi apresentado um acréscimo de mais de 334% na taxa de ocupação dos hotéis em comparação ao mesmo período do ano passado.
Além disso, o turismo pós-pandemia vem chamando a atenção de grandes investidores que estão apostando na retomada do segmento e investindo em novos empreendimentos em todo o país.
De acordo com a ABAV (Associação Brasileira de Agências de Viagem), os consumidores já estão mais interessados em viagens. A afirmação está embasada na recente melhora na confiança do consumidor.
Em junho, o ICC (Índice de Confiança do Consumidor) do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) subiu de 4,7 pontos para 80,9 – maior valor desde novembro de 2020.
Com mais de 50% da população brasileira imunizada, a expectativa é que a recuperação do turismo se intensifique até o final de 2021. Para Manuel Cardoso Linhares, presidente da ABIH Nacional, o avanço da vacinação estimulará empresas turísticas até o final deste ano. Mas a retomada mesmo só acontecerá ano que vem.
No entanto, segundo levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o nível de atividades pré-pandemia só será alcançado ao final de 2022.
Ainda segundo a entidade, o setor amargou um prejuízo da ordem de R$ 355,2 bilhões no volume de receitas, com fechamento de mais de 474 mil postos formais de trabalho desde o inicio da pandemia.
Aumento nas viagens a trabalho e lazer
Porém o movimento de retomada já dá bons indícios. Carlos Bernardo, Vice- Presidente da ABIH SP, confirma que, desde julho, a retomada está acontecendo gradativamente.
“De uma forma mais intensa em agosto e setembro – e outubro vai neste mesmo volume – estamos notando ocupação bem expressiva. As feiras têm ajudado a alavancar isso, além do turismo de lazer nos finais de semana”, diz.
O executivo também credita à queda nas taxas de mortes por Covid-19 uma maior segurança para realização de viagens de turismo e negócios. Além disso, os hotéis estão operando normalmente, seguindo as determinações das autoridades para garantir a segurança dos hóspedes, com medidas como distanciamento, disponibilização de álcool em gel nas áreas sociais e dos colaboradores, além da exigência do uso de máscaras.
“Também nos preocupamos com uma limpeza muito mais cuidadosa do que a feita antes da pandemia. As flexibilizações vão se dando gradativamente, conforme a vacinação avança e temos um controle maior da pandemia”, explica.
Bruno Omori, presidente do IDT-Cema (Instituto Desenvolvimento, Turismo, Cultura, Esporte e Meio Ambiente) destaca: “tivemos uma retomada significativa do turismo de lazer ligado a eventos esportivos e culturais. O mês de junho, por exemplo, ficou próximo ao mesmo mês anterior à pandemia. Mas o turismo de negócios ainda está mais lento – entre 30 e 40% da capacidade de antes da pandemia.
“Neste final de ano, a retomada do turismo de lazer, de entretenimento e de praia deve ser bem consolidada, com taxas de ocupação muito próximas a dezembro de 2019”, diz, para acrescentar: “eventos como Formula 1 já tem 100% de garantia de público, por exemplo”.
Bernardo também cita uma expectativa muito boa para o final deste ano: “as reservas já estão sendo feitas para garantir hospedagem fora de casa, já que as pessoas têm necessidade de sair, principalmente para hotéis do interior, resorts, e aqueles que recebem famílias, com um movimento bem intenso”.
Expectativas para 2022
Para 2022, a estimativa, de acordo com Omori, é que o Brasil tenha uma grande retomada. Inclusive o turismo de negócios – já no mês de janeiro, a realização de grandes eventos e feiras de negócios deve resultar em uma taxa de ocupação muito próxima de antes da pandemia.
“Quando se tem uma feira como a Couromoda, por exemplo, onde o lojista precisa conhecer o produto para comprar a coleção, é necessário participar presencialmente do evento. Com isso, o mercado em 2022 irá praticamente normalizar o turismo de lazer e o de negócios ficará próximo a 50 ou 60% do que era anteriormente”, acrescenta.
Já Bernardo destaca que, no entanto, a meta para 2022 é operar com cerca de 25% a menos da receita alcançada em 2019. Naquela ocasião, foi registrado recorde de faturamento com R$ 136 bilhões.
“O que mais impacta é a diária média e não conseguiremos elevá-la para equiparar a 2019. Isso é o maior agravante. Porém, a ocupação vem em uma crescente bem interessante, e as diárias terão que ser retomadas gradativamente, com mais cuidado no próximo ano”, indica.
Mudanças no perfil
Para os especialistas, a mudança no perfil dos hóspedes também será determinante na nova realidade pós-pandemia. A busca por destinos turísticos que já se adequaram aos protocolos de segurança e higiene é um deles. Neste contexto, viagens nacionais figuram como as prediletas do consumidor.
Somado a isto, os destinos que privilegiam o convívio familiar e os meios de hospedagem que proporcionam experiências enogastronômicas e de bem-estar, além da proximidade com a natureza serão os mais procurados.
“Os hóspedes a lazer estão buscando locais que também ofereçam serviços e local para trabalho. Inclusive, já estamos recebendo profissionais independentes que não podem ficar em casa e precisam produzir”, relata Bernardo.
Tendências
Outras alterações advindas com a pandemia apontadas pelos players do segmento, foram a criação de diversos procedimentos: cardápio digital e automação de processos, entre outros. “Mudanças em higiene também vieram para aumentar a qualidade dos serviços”, salienta Omori.
No entanto, os protocolos de higiene dependem do avanço da pandemia. “A flexibilização dos serviços e os cuidados nas operadoras hoteleiras e hotéis têm seguido as recomendações das Secretarias de Turismo, assim como dos governos para alcançar a flexibilização e garantir a segurança para os hóspedes”, reforça Bernardo.
“Definitivamente, todos estão tratando melhor a limpeza dos empreendimentos, sem deixar faltar álcool em gel e a comunicação para a manutenção do distanciamento”, aponta o vice-presidente.
Ele segue listando: “os procedimentos nos hotéis foram melhorando com a Covid-19, já que se buscaram alternativas para proporcionar maior conforto aos hóspedes. E, certamente, serão mantidos”.
Segundo ele, comodidades como QR Code para cardápio e diretórios, uso de WhatsApp para atendimento, fast checking, entre outros são itens que aceleram o mercado de hospitalidade para atender os usuários. “Além disso, todos os hotéis estão buscando em seu core business oportunidades para gerar mais receita”.
O retorno das feiras também traz uma boa ocupação para os meios de hospedagem. “Entendemos que o retorno no próximo ano virá em termos de ocupação. Mas não terá as mesmas diárias cobradas em 2019. Isso acontecerá de forma gradativa”, adianta.
Novidades a vista
A experiência do hóspede seguirá como uma tendência mundial, impulsionando o turismo de lazer. “Outra tendência será trabalhar mais a gastronomia e o entretenimento nos destinos de negócios”, aponta Omori.
Ainda, segundo ele, a questão da aprovação de jogos e cassinos – que deve entrar em votação em breve – pode trazer em torno de US$ 70 bilhões em investimentos nacionais e estrangeiros. “Isso vai ser uma grande força para a macro-economia, com o turismo sendo o maior beneficiado”, revela.
As apostas esportivas – aprovadas por lei desde 2018 – também são outro grande atrativo para impulsionar a cadeia produtiva do setor. “Ferramentas de divulgação e ações mercadológicas poderão ser feitas dentro de hotéis, restaurantes e parques temáticos”, finaliza Omori.